Para reflectir...

terça-feira, fevereiro 06, 2007


“Quando a lei, votada segundo as chamadas regras democráticas, permite o aborto, o ideal democrático, que só é tal verdadeiramente quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana, é atraiçoado nas suas próprias bases: Como é possível falar ainda de dignidade de toda a pessoa humana, quando se permite matar a mais débil e a mais inocente? Em nome de qual justiça se realiza a mais injusta das discriminações entre as pessoas declarando algumas dignas de ser defendidas, enquanto a outras esta dignidade é negada? Deste modo e para descrédito das suas regras, a democracia caminha pela estrada de um substancial totalitarismo. O Estado deixa de ser a «casa comum», onde todos podem viver segundo os princípios de substancial igualdade, e transforma-se num Estado tirano, que presume poder dispor da vida dos mais débeis e indefesos, como a criança ainda não nascida, em nome de uma utilidade pública que, na realidade, não é senão o interesse de alguns.”

Ioannes Paulus PP. II, in Evangelium Vitae, n.º 104

Comments

12 Responses to “Para reflectir...”
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Mens Insana disse...

Mas que católicos que estamos...quando dá jeito...

5:27 da tarde
Claw disse...

E o que dizer da posição do Vaticano sobre o uso do preservativo? Ou essa também não é uma questão de saúde pública?

7:04 da tarde

Mens insana:

Não se é católico quando se dá jeito ou não. Ou se é ou não é.
Além do mais não dá jeito nem deixa de dar. Eu até nem penso fazer um aborto...:)

Aqui não se trata de ser ou não católico, de ser do PS ou do PSD.

E essa é que é a gravidade da questão. É que este referendo vai ser decidido não em função da pergunta mas dos partidos que apoiam cada uma das respostas. E isto é triste. Como é que explicas que cerca de 70% das pessoas que vão votar respondam, também que não estão esclarecidas?

Pergunta na rua a uma pessoa comum o sentido do voto e quais os motivos. Olha que és capaz de te surpreender....

Mantenho o que disse em comentário ao post do Claw: Não sou fundamentalista relativamente a uma ou outra questão. Ainda ninguém me convenceu que a lei que o Sim pretende aprovar é melhor do que aquela que existe actualmente.

Tu tás convencido? Dá-me apenas três motivos válidos.

Claw:

Honestamente: quando quiseres conhecer em profundidade a posição do Vaticano sobre o preservativo diz-me e eu arranjo-te um interlocutor mais habilitado que eu. Digo-te só que não é tão simples como parece.

Mas não estamos a discutir o preservativo, ou a Igreja, penso eu...

7:15 da tarde
Claw disse...

Lá vamos nós outra vez....

1º - Não acredito que uma mulher que decida abortar, ainda que motivada por uma razão que não esteja contemplada na actual lei, deva ser condenada a pena de prisão. Aliás, é exactamente por se tratar de uma lei injusta, que não há nenhuma mulher presa!

2º - Não aceito que uma mulher que decida fazer um aborto deva correr sério risco de vida!

3º - Não acredito que fomentar a hipocrisia e um mercado paralelo de clínicas de aborto em vãos de escada e em Espanha faça qualquer sentido!

4º - Não acredito que o facto de ser permitido a uma mulher fazer um aborto em condições de salubridade fomente o aumento do número de abortos! Aliás, a experiência europeia indica o inverso... Mas tenho a quase certeza absoluta que vão diminuir os casos de morte da mulher, bem como os casos em que a mulher fica impossibilitada de voltar a engravidar em virtude de abortos sem assistência médica...

Será que estes não são motivos válidos?

Quanto à posição da Igreja.. e em tom de provocação/brincadeira... o que dizes acerca do verdadeiro flagelo da humanidade em matéria de procriação... a masturbação masculina!

Abraço!

10:15 da manhã

Claw:

Quanto à questão da masturbação masculina é uma matéria que não conheço a posição da Igreja pelo que não te posso elucidar, mas registo a preocupação...:))

Quanto ao teu pertinente comentário, deixa-me dizer-te que nunca me ouviste dizer que concordo a 100% com a actual lei.

De qualquer forma não nos afastemos do tema.

O referendo tem subjacente uma lei e é essa lei que deve merecer apreciação tudo o resto é uma discussão interessante, sobretudo moral mas que não cabe no âmbito do referendo.

A forma como eu encaro esta questão é comparar a lei existente com aquela que me propõem e em função disso aceitar ou não.

Também te digo que a posição da Igreja ou dos partidos é, para mim, absolutamente indiferente.

Independentemente das crenças religiosas e das convicções políticas tenho uma consciência e tenciono usá-la nesta matéria ao contrário da maioria segundo as sondagens: volto a dizer que acho inacreditável que a grande maioria das pessoas que vota sim diga, na mesma sondagem que não está suficientemente esclarecida...

Feita esta advertência prévia que me parece importante passo a respoder ao teu interessante comentário:

1. Dá.me uma razão que consideres justa e que aches que não está contemplada na actual lei. Quanto à questão da lei injusta como sabes, dava pano para mangas por isso não vale a pena entrar por aí.
Digo-te apenas que não há mulheres presas não porque a lei é injusta mas porque levanta, na prática, grandes problemas de prova. Dá uma vista de olhos pela Jurisprudência e concluirás que se não há mais mulheres presas é porque tem sido muito complicado ao Tribunal provar a gravidez da mulher...


2. Concordo em absoluto contigo. Mas isso não acrescenta nada à discussão. Com a actual lei (que sublinho, não é perfeita, longe disso) já podes fazer abortos em segurança.
Com a lei proposta, quem quiser fazer abortos para lá das 10 semanas continuará a correr risco de vida...

3. Suponho que pela tua resposta és a favor da total liberalização de drogas (leves e duras). Em resposta a isso remeto para a resposta anterior: essas clínicas vão continuar a existir para abortos para lá das 10 semanas.

E digo-te mais. Não sei se conheces a realidade do interior do país, mas não acredito que alguma mulher irá recorrer ao hospital de Portalegre, Évora, Beja ou Elvas para fazer um aborto em condições de salubridade.

Legal ou não, em terras pequenas, sob o espectro da vergonha nenhuma mulher irá fazer um aborto ao hospital local porque no dia a seguir toda a gente sabe e terá dificuldades em viver com essa vergonha. É criticável? É sim Sr., mas é o país que temos.

Nesta situação continuarão a ir a Espanha ou a recorrer às clínicas de vão de escada.

4º Não sei se aumentará ou não nem me parece que isso seja importante.
Aquilo que me choca profundamente nesta lei é o facto dela permitir à mulher fazer um aborto sem ter de apresentar a mínima razão (que, nota, do meu ponto de vista pode, ou não ser justificada).

A lei actual com todos os defeitos coloca um obstáculo moral dizendo-te aquilo que ainda não vi ninguém negar nos adeptos do Sim: o aborto é algo que, à partida é mau.

Com a nova lei essa censura deixa de existir e o aborto passa a ser visto como algo perfeitamente normal.

É isto que não posso aceitar.

Podes perguntar: mudavas a actual lei? Sim, certamente.

Mas não mudava para aquela que me propõem e por isso voto Não.

Já agora: Concordas, na totalidade com a lei proposta?

Abraço

11:05 da manhã
Claw disse...

Meu caro,

Parece que a “carroça está a passar à frente dos bois”... A pergunta pode ser genérica e em abstracto ter um alcance superior aquele que eu posso considerar “razoável”. Mas a lei também poderá incluir, entre outros, os tais mecanismos de acompanhamento psicológico da mulher que serão seguramente úteis e relevantes!

Mas sejamos pragmáticos! Estamos perante uma opção! Uma opção de mudar! Se a aprovação de uma lei passasse sempre pela adopção da solução mais perfeita, viveríamos todos numa utopia legislativa sem leis! Há que tomar uma opção, e estou convicto de que a opção do “Sim”, apesar de não ser perfeita, supera em muito a actual lei!

Adoptar uma posição de “Nim” e defender cenários irrealistas que não “estão em cima da mesa” pode ser um exercício interessante... mas não resolve! Talvez se o “Sim” ganhar se possa discutir os mecanismos e opções legislativas que evoluam de uma forma positiva essa lei, mas no presente... já começa a ser uma discussão estéril!

Quanto à questão da liberalização das drogas... pensava que não querias fugir da questão do Aborto! :) Mas essa poderá ser a próxima discussão em Referendo... ou talvez a da legalização da prostituição... quiçá...

Abraço!

12:37 da tarde
Este comentário foi removido por um gestor do blogue. 12:40 da tarde
Mens Insana disse...

Meu caro bartolosalsoferrato:

Em primeiro lugar deixa-me exprimir o meu agrado por não ires fazer um aborto :), até porque apenas pelo facto de eu concordar com a despenalização, não quer dizer que por dá lá aquela palha se faça um...

Em segundo lugar, não vale a pena misturar alhos com bugalhos...uma coisa é o aborto, outra coisa são as drogas e por aí adiante...

Senão ter-se-ia de alinhar pelo diapasão dos "homicidas" e dizer que o aborto é um homicídio qualificado, pois revela especial censura e é contra o filho...infanticídio qualificado...

Não vale a pena extremar as posições, especialmente pelo facto de este tipo de questões estar de acordo com a nossa percepção social...

E quanto à legalização da prostituição...sinceramente...só falta comparar isso ao aborto também....

12:44 da tarde

Meu caro

Ora aí está a nossa diferença!
Ambos achamos que nem a nova lei (como é proposta) nem a lei antiga (como está)resolvem coisa nenhuma.

A diferença é que tu achas que a lei actual é melhor que a anterior e eu digo-te, pelas razões que apontei no comentário anterior, que não é.

Tu dizes: faça-se uma nova lei e depois desevolva-se essa lei. Isso, realmente, é muito português: fazes uma lei a pensar já em alterá-la...

Eu digo: melhore-se a actual.

Mas não respondeste à questão: concordas em 100% com a lei proposta?

Quanto às liberalização das drogas, questão onde, provavelmente, teremos opiniões mais próximas, não quis trazê-la a debate.

Porque sei que és coerente apenas utilizei um argumento teu para tirar uma conclusão...:)

Abr

12:47 da tarde

Ilustre Mens Insana

Não se pretende discutir aqui liberalização de drogas ou da prostituição.

Como disse, só retirei uma conclusão de uma afirmação do Claw...

Mas não respondeste às questões que te coloquei no meu primeiro comentário...

Só mais uma coisa. Certamente por lapsus linguae escreveste que concordavas com a despenalização quando querias dizer liberalização...

12:58 da tarde
Mens Insana disse...

Caríssimo Bartolosalsoferrato,

Escusei-me a responder às tuas questões pelo simples facto do Claw o ter feito e de estar de acordo com ele...assim não corro o risco de fazer chover no molhado...

Quanto ao eventual lapsus linguae, de facto, este não existiu; a liberalização de algo, a meu ver, implica a liberdade absoluta de escolha, que no caso em apreço permitiria o aborto, sob qualquer circunstância em qualquer altura...género Holanda...que creio ser até às 22 semanas...

Aquele abraço!

4:00 da tarde

Ok.

Respondes por remissão ou (apud Claw)...:)

Aceita-se, a fundamentação por remissão é válida.

Quanto ao alegado lapsus linguae fiquemo-nos então pela liberalização até às 10 semanas.

Nestas coisas exige-se rigor terminológico.

Um abraço.

4:07 da tarde