Um ladrão em cada supermercado...

domingo, julho 20, 2008

Há coisas que se passam todos os dias à nossa volta, muitas vezes connosco ou a envolver-nos, e contra as quais muitas vezes não temos o discernimento para reagir.

É verdade que, estando na maior parte das vezes com a cabeça em coisas que pensamos ser mais importantes, optamos, consciente ou inconscientemente, por adormecer tudo aquilo que, logo à partida, pensamos que será secundário, inofensivo, o que, acrescento eu, leva-nos a associar determinados graus de "alerta" a determinados sítios. Por exemplo: não é semelhante o grau de alerta que tenho a trabalhar face ao grau de alerta que tenho activo quando estou a fazer compras no supermercado. Ainda bem que assim é.

Porém, o tal adormecimento de que falava atrás pode ser perigoso. E é propício a abusos.

Certamente que se lembram de ir recentemente ao supermercado e, logo à entrada, serem brindados com uma maralha de seguranças privados que vos convidam a entregar as compras que fizeram noutras lojas, para serem seladas. E quando digo seladas, não é meter um selo do supermercado. Nada disso.

Conscientes de que cada potencial consumidor de produtos de um supermercado é um potencial ladrão, a tal maralha de que falava coloca os nossos sacos dentro de um plástico enorme onde cabem mais 10 embrulhos como o meu (mais parecem as cuecas da minha bisavó) e colocam-no junto a uma máquina para o fechar, a quente. E vem com pega e tudo, apesar de a mesma se desfazer em 2 minutos.

E pronto, já está. A partir desse momento, a presução de que vamos roubar fica mitigada: já não vou poder meter dentro do saco da Fnac aqueles cominhos que tanto queria levar sem pagar ou aquelas ceroulas que vi no dia anterior e que me iam dar tanto jeito no Inverno.

Aliás, a presunção de que somos todos uns bandalhos é dupla: não só vamos meter tudo e mais alguma coisa nos sacos que já levamos, mas vamos inclusivamente dar-nos ao trabalho de tirar os alarmes dos produtos palmados.

É absurdo!

Mas o tuga, como não sabe que não está obrigado a cumprir aquele ritual saloio, entra no supermercado já a olhar para os seguranças e a perguntar: "posso entrar com isto?". Até o coração parece saltar do peito!

Não consigo perceber com que legitimidade os supermercados se arrogam do direito (que não têm, legalmente) de meter seguranças privados a controlar o que as pessoas compram noutras lojas e, ainda para mais, a obrigá-las a andar de trambolho na mão, como se não nos estivessem a dar um (outro) saco de plástico para a mão mas, antes, um cofre impenetrável das Chaves do Areeiro.

Aliás, digo eu, este exercício intrusivo dos supermercados tem uma fragilidade básica: obriga os seguranças privados a conhecer todos os tipos de produtos que o supermercado de que são guardiões vende, para que, confrontados com o produto que o potencial ladrão já traz na manga vindo de outras lojas, saibam se terão que recorrer, ou não, às cuecas da minha bisavó. Não deve ser tarefa fácil e aposto que os seguranças em causa são alimentados a Cerebrum, não vá a memória falhar...

Eu já tomei a minha resolução: não entrego mais as minhas compras de outras lojas aos seguranças privados dos supermercados. Se quiserem venham no final ter comigo e peçam-me comprovativo de que aquele produto em concreto, que também se vende naquele supermercado, foi comprado noutra loja. Ou façam um improvement aos sistemas de alarme. Ou troquem as cuecas da minha bisavó pelas de uma rapariga de 20 anos.

Ou, talvez o mais difícil, simplesmente confiem.

É que para mim basta.