Dado que uma percentagem bastante elevada de amigos meus em idade nubente decidiu assinar esse contrato vitalício e irrevogável que é o casamento, resolvi escrever algumas palavras sobre o dito instituto. No presente texto, optei por fazer uma mera introdução ao tema, sendo que, como aviso prévio, deixo claro que não me comprometo a fazer uma parte II, pelo que a publicação deste texto é, assim, insusceptível de criar quaisquer expectativas juridicamente tuteladas.
Feitas as advertências legais, peço-vos que tomem este texto, como um trabalho de carácter jus-científico mas que ultrapassa esse âmbito, pretendendo imiscuir-se no domínio da dogmática metodonomologica do discurso racional. Significa isto, apenas e tão só, que este texto deve ser visto como o simples conselho do irmão mais velho que chega a casa em situação de quase coma alcoólico e vos diz:
“nunca bebas cerveja porque está muito cara e para ficares bêbado tens de beber muitas, bebe antes daquela bebida com o bicho lá dentro.” Sábias palavras, essas, que me acompanharão para o resto dos meus dias.
A título prévio, ainda, uma advertência bibliográfica: as referências ao Direito Natural efectuadas ao longo do texto podem ser desenvolvidas em S. Tomás de Aquino, Summa Theologica, I-II, q.91, a.1-2.
Iniciemos, pois o árduo trabalho.
Começando, pois, como é da praxe, pela história, pode afirmar-se que a ciência demonstra que os grandes feitos estão destinados a homens solteiros, senão vejamos:
Acham que o Vasco da Gama ou o Pedro Álvares Cabral teriam chegado à Índia e ao Brasil, respectivamente, se fossem casados? Não, a primeira coisa que teriam ouvido quando comunicassem a ideia à esposa seria, naquele tom ameaçador meio sério meio histérico:
“sem pões um pé naquele barco troco-te pelo ferreiro que, por acaso, até tem uma “espada” maior que a tua”.
É verdade meus caros, os grandes feitos estão destinados a homens solteiros. Vejam o exemplo do Herman José ou do Joaquim Monchique. Acham que os homens andariam sempre de tão bom humor se fossem casados? É óbvio que não. E não me vejam com boatos cuja credibilidade deixa muito a desejar, porque, se fosse assim, sempre podíamos dizer que o Elton John também se casou…
Mas nos dias de hoje, o casamento, ainda não o sendo, tem já uma parte interessante. Refiro-me naturalmente ao já célebre curso de preparação para o casamento, vulgo, CPC.
Basicamente isto é um sítio onde a noiva obriga o noivo a ir, pois é
“conditio sine qua non”, para que a união seja abençoada por Deus, e curioso é verificar que, já aqui, começam as divergência entre os ainda noivos: ele, quase sempre, reconhece mais autoridade ao Notário, ela, julga que o sacerdote os pode ajudar, como se ele tivesse qualquer experiência em matéria de casamento, enfim… .
Porém e dado que o casório é uma festa em que é a noiva quem tem o papel principal, o homem acaba por ceder.
Mas este processo de cedência do noivo à noiva, não se fica por aqui, durante esta fase encantada, também conhecida como antenupcial, o rapaz, cede a todos os desejos da moça. Os dois juntos, bem abraçadinhos, vão comprar o recheio da casa, copos, pratos e essas coisas todas que, uns anos mais tarde, aquando do divórcio vão ter que dividir mas que acabam sempre por ficar com a mulher porque o que ele quer é desaparecer e quanto mais rápido melhor.
Também aqui, embora seja, na teoria um processo de escolha a dois, ele é, na prática, uma decisão unilateral e irrecorrível, sublinho irrecorrível, da moça: se ela acha graça a uns copos dignos de constarem num estábulo, o rapaz não pode, sequer, atrever-se a colocar em causa a sua beleza, só para não ter de ver aquela cara de reprovação para o resto da vida cada vez que tiver sede. Mas o problema, mesmo, é se ela, numa falsa tentativa de dar um carácter democrático à coisa, lhe pergunta a opinião. Aqui o rapaz fica num dilema: se é sincero, nunca mais pode voltar a beber água frente à esposa, se não tiver opinião, ou disser que não se importa com essas coisas, ouvirá um reprovador:
“não te interessas por nada, sou sempre eu que tenho de fazer tudo, a pressão está toda em cima de mim…” e outras expressões afins que seria tortuoso aqui elencar. Permitam-me, porém, um parêntesis, para, em defesa da raça, dizer que tal expressão é um acto de puro amor, digno de um príncipe prestes a tornar-se sapo. O que o homem quer significar com tal expressão é simplesmente que todas aquelas coisas, comparadas com a sua amada, não representam nada.
Aliás, deve dizer-se que o conceito de
“recheio da casa” masculino se limita (i) à mulher, (ii) a uma catrefada de putos a correr livremente pelo covil, (iii) a um bom frigorífico e (iv) a uma televisão com Sport tv.
Mas o fenómeno mais interessante ocorre mesmo, no dia do casamento, em que o rapaz, metido num fato que provavelmente não vai vestir novamente na vida - a não ser que emigre para Angola e invocando o Direito Natural case mais seis vezes – tem de aguardar uma hora pela noiva, muitas vezes apertado para ir à casa de banho, ouvindo as tias da noiva cochichar:
“aí tão feio, não sei como é que a nossa menina se agradou dele, o filho do Manuel talhante, aquele que ela namorou tantos anos, era bem mais bonito, e rico.”!!!
É nesse instante que o noivo pensa:
“mas quem c****** é o Manuel talhante” e, num rasgo de lucidez, olha para os amigos (que, neste preciso instante, não conseguem parar de rir da figura do noivo), e pensa em desistir. Mas aí, meus caros, nesse instante já não há nada a fazer, o ponto do não retorno foi ultrapassado, a marcha nupcial já começou e agora, é
“até que a morte os separe”.
Face ao exposto só me resta, pois, deixar-vos, um conselho, útil não só para esta, mas para todas as circunstâncias da vida:
Vigiai, meus amigos, vigiai sempre e sem cessar, pois
“larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição”… (Mat. 7:13-14).