Les Retrouvailles

terça-feira, fevereiro 28, 2006

Confesso que estava à espera de algo (completamente) diferente...

A expectativa estava em queda, num pique frenético, desde que o talentoso músico francês optou por adiar o esgotadíssimo concerto marcado para Dezembro e remarcá-lo (imagine-se!) para a 2ª feira de Carnaval, dia no qual são muitos - ao que parece - os que fazem questão em comemorar uma festa que nunca foi nossa e que apenas fala português porque alguém, num certo dia certamente chuvoso, decidiu importar "à bruta" um conjunto de artistas brasileiros de duvidosa qualidade.

Calculo que as pessoas que se encontravam no CCB não estavam preparadas para o que iriam ver/ouvir... não será estranho se disser que a música de Yann Tiersen implica sempre um breve processo de aprendizagem, muito lenta num primeiro momento, e, quando nos desleixamos num piscar de olhos mais demorado, completamente integrada na nossa vida e sem a qual já não conseguimos viver...

A música começou, a eterna insatisfação com o lugar em que nos encontramos assaltou-me o espírito (ou é duro, ou não tem braços, ou não tem espaço para as pernas... enfim, pelo menos não deve haver anão que se queixe!), mas rapidamente os "algos" tornaram-se em "nadas" e a paixão por aquela sonoridade começou a renascer, ferida de morte praticamente desde que o "é" passou a "vai ser".

Foram cerca de 2 horas de uma dimensão musical ao alcance de poucos, de uma mestria invulgar, de uma musicalidade que se sente e se vê... os olhos tinham dificuldades em apreender tudo o que se passava naquele palco, tão grande para uns, mas tão pequeno naquela noite... as mãos apertavam-se cada vez com mais força... os ouvidos recusavam-se a aceitar tamanha harmonia, o baixo confundia-se com a guitarra até que aparecia o piano que gritava mais alto do que o acórdeão que não fazia esquecer a flauta...

Já lá vão 2 dias... e ainda estou a ressacar!

O Faraó

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Estava eu, naquele belo dia de véspera de Carnaval a matutar..."qué passa hombré?"..... pouco trânsito.....Metro (e não eléctrico de superfície...que parecem proliferar mais depressa do que a gripe da aves e a que alguns chama Metro...vá se lá saber porquê.....se calhar é por contam a distância em metros e não em quilómetros) semi vazio....cafés e algumas lojas encerradas... e de repente...zás.....aquilo a que se chama um valente espalhanço (ou tralho em português cavernículo)!! Depois de ter dito uma vintena de palavrões a uma velocidade superior à da luz (que faria qualquer mulher púdica corar......partindo do pressuposto de que ela não gosta...) dou comigo a contemplar o céu e a pensar na vida.......quando sou abruptamente interrompido por uma voz doce e cândida de uma senhora cuja idade me fazia pensar, sabe-se lá porquê, em tijolos, que me disse: "Quer que chame uma ambulância"....."Coitado de si...." !!
Fiquei pasmado......coitado??!! Só porque aparentava ter 3 costelas fracturadas, fissuras na bacia,descolcamento da omaplata, cabeça partida, entre outras várias escoriações graves, chamou-me coitado?? Mas a quem é que a p*** da velha estava a chamar coitado??? Então de uma forma raivosa e extremamente desagradável respondo-lhe: "Não minha senhora...fico-lhe agradecido, mas estou bem..."....entretanto ouço as sirenes e o instinto africano (para quem vive num País dito de Brancos) fala mais alto....começo a fugir....zás....fugi para o lado errado.....era o lado da estrada e sou abalroado por uma VW Passat amarela e azul, a que chamam VMER do INEM...... ai a minha vida, pensei....
Quando acordei pergunto a uma enfermeira de sonho ( 60 - 86 -60 .... correcto era esta a proporção, mas também não disse que era de sonho para que tipo de pessoa...talvez um amblíope) que estava perante mim na cama de hospital..."que dia é hoje?"...Ao que ela me retorquiu, naquela voz abagaçada de estivadora do Porto de Setúbal.."É Carnaval, mas você deve sair daqui por volta da Páscoa!!"...
Pensei...mascarado já eu estou e graças aos meus níveis de melanina, posso até ser considerado como um Faraó....aspecto de múmia, tez acastanhada, trazem-me a comida, tratam de mim......esta vida está difícil.....ai, eu..ai, eu!!!

Aberto das 0:01 às 23:59!

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

4:23AM! Acordei sobressaltado! Pressão arterial no pico! O sangue cavalgava pelas veias... a sensação de aperto no coração... Numa obstinada tentativa de acalmar, cerro os olhos com força e tento fixar os pontos de luz em pano de fundo negro, que mais não são que um céu estrelado em rotação (curiosamente este fenómeno segue invariavelmente o sentido dos ponteiros do relógio) Mas não resulta! A ânsia de exteriorizar o chorrilho de ideias que me percorrem e invadem o pensamento é mais forte, tenho de encontrar maneira de contar isto a alguém... mas como?? A esta hora?? A quem poderia ligar sem ser violentamente insultado?? Escrever na fronha da almofada?? Mesmo que quisesse, não era capaz de escrever tudo o que penso... perderia a essência... o corpo... a alma... mas afinal, em que estava mesmo a pensar?!? Merda!!! Foi-se...

Afinal, o que sentia era apenas uma incontrolável vontade de mijar por causa das Sagres que bebi ao jantar... acendi a luz e calquei o chão frio em direcção à casa-de-banho, pé ante pé, enquanto matutava em agonia na genial ideia poderia ter concebido... mas que deixei escapar... foi nesse momento de pseudo epifania, que verdadeiramente me senti humano, foi um verdadeiro bater com o dedo mindinho na esquina da porta!

Qualquer coincidência entre o relato supra exposto e a realidade, será pura coincidência, até porque, eu não bebo Sagres, bebo Superbock! Mas o que verdadeiramente importa é que amiúde, há episódios que devem ser contados, são pedaços de vida, recortes de ideias, ou até colagens de sonhos, que são maiores do que nós...transcendem-nos! Não nos pertencem! Assim sendo, optemos então por partilhá-los!

Este espaço lúdico/porno/desportivo/banal/cultural (quiçá até...musical) é apenas comparável àquele espaço, onde a malta no liceu se reunia nos intervalos, aquele canto tão nosso, que apesar de aberto ao mundo, não deixava de nos ser mais familiar! É embebido nesse espírito, que deixo de dormir no confortável sofá de amigos, e surge este espaço para os amigos!